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18 de março de 2025

Jogo das Estrelas 2025: Jhonatan Luz, o capitão que é sinônimo de títulos e vai atrás de mais uma coroa

Na última reportagem das série dos capitães do Jogo das Estrelas, um capitão acostumado a ser majestade, o rei de Copas e Campeonatos. Único atleta que conquistou seis vezes seguidas o NBB CAIXA e um dos dois que possui quatro títulos de Copa Super 8, Jhonatan Luz ficou viciado em conquistas justamente porque não esquece o sabor amargo de deixar um título escapar por entre os dedos. Assim, não vai para o evento apenas para comandar um dos NBB Brasil para se divertir, tratou de trazer nomes como Alex, Lucas Dias e Alexey para buscar o bicampeonato do evento. Mas, em seus planos, tem mais conquistas por vir já nessa temporada. O ouro que reluz em suas coroas, vem forjado de seu próprio esforço, alinhado com a família e a fé inabalável que move montanhas.

O ouro é um metal de coloração dourada, de aspecto brilhante, resistente à corrosão, dúctil e maleável. Sua beleza fez desse metal um dos mais cobiçados ao longo da história da humanidade, seja por importância econômica, seja por questões religiosas e esotéricas. É considerado o mais nobre dos metais, embora não seja o mais caro nas cotações atuais“, segundo a definição do site Brasil Escola. Ouro é tão valioso que fica na coroa como um símbolo das grandes conquistas. Tem aquele rei que herda todo o reino, mas Jhonatan Luz é o tipo de rei que precisou transpirar para construir seu reino e o tornou mais valioso do que qualquer coroa de ouro de 24K.

Isso tudo começou há 28 anos atrás, ainda em Osasco, na Grande São Paulo, local onde Jhonatan cresceu. Lá havia a idolatria por um certo camisa 23 que assistia pela televisão e um primo que acreditou no potencial do garoto da periferia. “Comecei com dez anos. No dia do meu aniversário, recebi um presente do meu primo Edson. Estava na escola, ele me tirou de lá, falando que eu iria a um dentista (nunca vi um dentista tão longe), porque eu morava em Osasco e fui no Continental (Parque Clube) fazer o primeiro teste.” Se verificar no mapa, entre o bairro de Jhonatan, Rochdale, e o Parque Continental são de seis a sete quilômetros até o clube onde jogou Leandrinho Barbosa e teve dois nomes importantes como técnicos na década de 70, Edson Bispo e Rosa Branca.

“Mas, infelizmente, não me adaptei, não foi um mar de maravilhas, chegar lá, começar a pegar a bola e jogar, muito cru, não sabia nada, não sabia jogar basquete. Eu amava, porque assistia muito o basquete pela TV, naquele tempo tinha a Bandeirantes que passava a NBA e eu sou muito fã do Jordan. Comecei a ver e meu primo, que já jogava, me levou a fazer esse teste, falando que iríamos ao dentista. O treinador me colocou para arremessar na parede, todo mundo correndo com bola, treinando, e eu, gigante, só para bater bola na parede. Olhei para o meu primo e falei: ‘não, não é isso que eu quero’. Não gostei, fui frustrado para casa”, explicou Jhonatan, que deu a entrevista no dia do aniversário de sua cidade, exatamente no dia seguinte ao aniversário de seu ídolo.

Jhonatan atuando pelo Limeira no NBB CAIXA de 2010/11. Foto: Maurício R. Martins/Divulgação

Assim, para superar a primeira frustração na carreira, o primo Edson começava a ensinar mais uma lição que o esporte promove, ter persistência. “O dia seguinte ele veio brincando, de novo me tirou da escola (lógico, avisou minha mãe que me tiraria da escola novamente), só que ele me levou na Zona Norte de São Paulo, lá no Esperia. A treinadora, Elizabeth, chegou e me apresentou, me deu uma bola, estava um monte de gente com bola dentro da quadra, todo mundo batendo bola. Ela só me deu a bola e falou: ‘vai ser feliz!’ e estou aqui até hoje”, lembrou o sorridente Jhonatan, que ainda agradece até hoje o que Edson fez. “Falo que meu primo deu presente. Estou abrindo cada lacinho do presente a cada ano que passa, cada título que vou conquistando, a cada processo passado”.

Permaneceu por seis anos no clube à base de muita persistência dele e da mãe, dona Rosemary Luz, porque a logística para chegar à Zona Norte de São Paulo era puxada. A mesma mãe que autorizou que o filho saísse um dia da escola para fazer o teste de basquete e o levava para treinar é a mesma pessoa que cobrava empenho nos estudos, visando as possibilidades futuras. “Minha família é o meu chão, falo que minha mãe, guerreira, sempre me ajudou, ficou dois anos indo comigo, era muito novo, ao Esperia. Nós viajávamos praticamente duas horas, em São Paulo, para treinar, ela que fazia esse trajeto comigo. Tem até um episódio que eu sempre comento, é um marco na minha carreira, que ela me tirou do esporte por causa dos estudos. Isso foi muito marcante, vou guardar para minha vida inteira, porque não estudava, queria treinar, cabulava para treinar. Mas ela fez o correto, porque não teria nada sem os estudos. Naquela época que era muito novo, só pensava em jogar, era aquele deslumbre que você quer jogar, que quer virar jogador, melhorar. Só que ela falou: ‘se você não tiver estudos, você nunca vai melhorar, você pode ser um ótimo atleta, mas como pessoa você não vai ser ninguém’. Isso mudou totalmente minha cabeça”, recordou o ala do Flamengo.

Esse alicerce familiar é um dos traços que mais fortalece e mais está presente na vida de Jhonatan. Além de servir de exemplo para os irmãos mais novos, o atleta se emociona quando lembra de Ethan, o filho que é sua maior motivação e sua razão de jogar. “Tive a felicidade de ter meu filho, que, além de ser a mascote do time, ele é tudo para mim. Ele que me dá força, é um menino que me dá alegria, está comigo nos momentos tristes e nos momentos felizes, vejo a foto, brinco com ele, fico com ele. Às vezes, saio cansado do jogo, saio cansado do treino, mas, na hora que chego em casa ou ele vem no treino, é outro ambiente, não sinto cansaço, não estou mais triste, fico emocionado, é bom, é um negócio surreal”. Jhonatan fez questão de participar do draft do Jogo das Estrelas com Ethan junto e já revelou que vai levá-lo para Belo Horizonte, para que possa torcer e apreciar o evento que ocorre nos dias 21 e 22 de março, na Arena UniBH.

Gustavo De Conti, Deryk e Jhonatan, no Paulistano. Foto: Arquivo

Do Esperia, Jhonatan se transferiu para o Paulistano/CORPe, já que o antigo clube não oferecia um contrato profissional. Com 16 anos, surgiu um personagem em sua vida que andou, por muitas vezes, em paralelo com o ala e, em outras se cruzaram, Gustavo de Conti. Coisas que só o esporte proporciona. As primeiras palavras do jovem treinador para o adolescente: “você precisa treinar como profissional”. Magro, Jhonatan ouviu o conselho. “Não tinha tanto corpo, fui adquirindo experiência e físico, joguei com Renato Lama, Shamell, Janjão, então, fui pegando essas experiências com esses jogadores e fui evoluindo.” No seu primeiro ano entre os adultos, chamou a atenção na Europa e foi jogar a Liga ACB (Espanha) pelo Málaga por uma temporada. Permaneceu na península Ibérica mais quatro anos, passando por times como Caja Rural Zamora, Guadalajara e Mérida.

Então, o técnico Chuí do Araraquara-Palmeiras o chamou para jogar na segunda temporada do NBB CAIXA, em 2009/10. Só ali que começou a trajetória de Jhonatan no basquete profissional brasileiro e uma das carreiras mais longevas, afinal o ala é um dos três atletas com mais partidas na história da competição, ao lado de Larry Taylor e Alex. Como se não bastasse ser recordista de títulos, na atual temporada, tem a possibilidade de se isolar na liderança de números de partidas, a depender do desempenho de cada time (Flamengo, Caxias do Sul Basquete e Bauru Basket, respectivamente) nos playoffs.

Jhonatan, do Palmeiras, e Ted Simões, do Pinheiros. Foto: Arquivo

De 2009/10 para cá, lá se vão 16 temporadas. Nesse caminho, teve Limeira, time que conquistou seu primeiro título, o Paulista de 2010, e ficou duas temporadas. Mais duas em sua primeira passagem pelo Sesi Franca. Sofreu uma lesão que o afastou por oito meses. Passou uma temporada com o Palmeiras, antes de seu retorno ao Paulistano e momento que representou a guinada em sua vida, com o gosto mais amargo que sentiu no basquete. “No primeiro ano, fomos desclassificados na semifinal contra Brasília. Vínhamos com uma temporada muito boa. Joguei com Valtinho, Gruber, Caio Torres, Dawkins, era um time muito bom, só que, infelizmente, nos playoffs, acabamos perdendo. No ano seguinte, renovei. O Paulistano literalmente renovou, Gustavinho (de Conti) estava assumindo o profissional, trouxe o Lucas Dias, o Yago. Foi a primeira vez que eu fui capitão de um time. Perdemos a final na temporada 2016/17. Bauru fez um espetáculo nos playoffs, sempre virando as séries, durante todo o playoff. Não foi diferente na final contra nós. Abrimos dois a zero, eles viraram o jogo e foram campeões. Conversava muito com o Lucas Dias, conversava com os jogadores. Eu falei: ‘cara, é uma sensação a pior da minha vida’. Guardo esse episódio com a mágoa muito ruim, porque estava com uma mão na taça, era um jogo para ganhar e você perde os três jogos. Ficou aquela frustração enorme. Passou aquela temporada e falei: ‘não quero passar por isso de novo’. Comecei a treinar nas férias, comecei a me cuidar melhor.”

Ou seja, até começar a sequência de seis títulos seguidos de NBB CAIXA, quatro Copa Super 8, Basketball Champions League Americas e Intercontinental, Jhonatan teve que suar muito em quadra e ter muito cuidado e dedicação para que não tivesse tantos percalços físicos, já que os empecilhos da vida são inevitáveis. “Na minha vida não tem só vitórias, todo mundo olha as glórias, mas não sabe o processo que é doloroso, é cansativo, tenho que me cuidar literalmente dobrado. Em Franca, tive a primeira lesão do punho, fiquei oito meses parado. Depois, nessa passagem que eu tive agora, eu machuquei o outro punho. Tive uma recuperação muito mais rápida, porque foi totalmente diferente a lesão. Mas, para mim, foi complicado, porque você acaba se desligando do time automaticamente, você não vai viajar, tem que manter o foco. É difícil você manter a cabeça sempre boa, sabendo que você tem uma lesão. Você acha que não dá, vai chegando a idade, vai desfocando, vê que vai ficando para trás. Conversava muito com um amigo meu, o (Sandro) Varejão, ele falava: ‘jogador, se não lesiona, ele tem uma carreira muito longa’. Só tive essas duas lesões nos punhos. Então, graças a Deus, nunca tive uma lesão muito grave. Me cuido bastante, tanto fisicamente como mentalmente, que é super importante, porque sabemos que é desgastante. O campeonato é muito longo, muitos jogos, muitas viagens. Vários campeonatos, internacional, nacional, estadual, acabamos nos desgastando muito.”

Jhonatan e Georginho, do Paulistano, no torneio de enterradas do Jogo das Estrelas de 2017. Foto: Arquivo

Observe que na fala anterior, Jhonatan manifesta outro alicerce que se faz presente em sua vida e traz a tranquilidade necessária para buscar as grandes conquistas, sua fé. “Quando se é mais novo, por exemplo, queria jogar basquete, não pensava em virar profissional, jogar com os melhores jogadores do Brasil, jogar contra os melhores do mundo, ter passagem por Seleção, ter jogado fora do país, só almejava jogar basquete e o sonho de todo garoto é chegar na NBA, sempre sonhei. Mas nunca na minha vida passou de ganhar seis títulos seguidos, às vezes a ficha não cai. Falo que é Deus, não tem o que fazer, lógico que trabalhamos e fazemos de tudo, mas não tem explicação. Só agradeço a Deus, porque Ele está proporcionando isso para mim, só agradeço a Ele que me colocou nesse caminho e estou seguindo. Minha mãe sempre fala para entrar dentro de quadra e jogar para Deus, não jogar para o homem. Se jogar para Deus, esquece. Estou jogando para Ele e Ele está me mostrando o caminho do título. Eu falo que jamais imaginaria ter meu filho, me vendo jogar, tudo o que estou passando não tem explicação, acho que é só Deus.”

Jhonatan era o capitão do primeiro e único título do Paulistano/CORPe no NBB CAIXA, conquistado em 2017/18. Gustavo de Conti foi contratado para o Flamengo e trouxe Derik, Nesbitt e Jhonatan, confiando em sua mentalidade vencedora para retomar o caminho das conquistas para o Rubro-Negro. Mais dois NBB CAIXA para conta, uma BCLA, duas Copa Super 8 e uma pandemia. Em seguida, os três anos que empilhou taças no seu retorno ao Sesi Franca. Voltou nessa temporada ao Flamengo e advinha? Título de novo. “Em cada time, cada título foi muito marcante, porque o Paulistano nunca tinha ganhado. O Flamengo sempre foi um time ganhador, mas manter a sequência é muito difícil. Vinha de dois anos sem ganhar, depois daquilo, manteve uma sequência muito boa de títulos. Franca também muito tempo sem ganhar, ganhamos três anos seguidos no NBB CAIXA, Champions, Mundial. Foi muito bom. Agora, foi uma experiência nova, porque time novo, por mais que eu conhecesse o Gustavo, conhecesse a comissão, todos os jogadores, só com o Balbi que eu tive a oportunidade de jogar. Com o Gui, com os americanos, com o Taya nunca tinha jogado. Foi uma coisa nova, uma experiência nova com novos jogadores e já ganhamos a Super 8”.

Jhonatan, campeão do NBB CAIXA em sua primeira passagem pelo Flamengo. Foto: Arquivo

Estar ao lado de um campeão é uma motivação extra para quem está a sua volta e essa empolgação se volta para o próprio Jhonatan. “É muito legal que tem jogadores que chegam e falam: ‘que legal, estou jogando com você, agora vamos ser campeões’. Eu respondo: ‘é isso mesmo, vamos ser campeões’. Minha mãe fala, tem que pensar, profetizar isso e buscando ao longo do ano, da temporada. É muito desgastante, o jogador fica estressado e estou ali para ajudar, seja brincando, dando um ar de mais tranquilidade, mas sempre cobrando, não importa. Hoje sou mais velho, mas joguei com jogadores que eram mais velhos que eu e eu mesmo sempre falava: ‘pô, vamos aí cara, você precisa melhorar, você precisa correr junto comigo’. A molecada também fala: ‘vamos embora, vovô, vamos lá, vamos correr’. Eu respondo: ‘vamos, vamos lá, estou junto com vocês’. O objetivo maior é ser campeão, isso de sempre estar buscando e ajudando os companheiros, sempre estar motivado para conseguirmos o objetivo maior.”

O ala quer mais. Espera que o novo técnico do Flamengo, Sergio Hernandez, o conduza a novas conquistas, uma vez que Jhonatan tem ambições de ser o maior campeão isoladamente do NBB CAIXA, além do atleta com mais conquistas de BCLA e buscar um novo Mundial Interclubes com o time carioca.

Isso que nem foi falado de Jogo das Estrelas, a joia da coroa, que Jhonatan já coleciona na galeria dos títulos e quer o bicampeonato. “Vamos brigar por isso. Tive a oportunidade de vencer, foi em Minas também o Jogo das Estrelas que ganhamos, era o time do Lucas (Dias). Agora ele está no meu time, mudou só o capitão. Tomara que traga sorte, ajude o time a ganhar, montei o time muito forte, defesa muito boa, jogadores de alta qualidade, medalhões, como Alex, um exemplo. Sempre vi o Alex jogar, joguei contra, é um cara que me espelho bastante, sou fã dele, já falei isso, ele acha que é uma brincadeira. Joguei Seleção com ele, sempre me dando toque, sempre brincando juntos, é um cara que me espelho bastante. Outros jogadores novos, coloquei também garotos que estão crescendo no NBB CAIXA, estão evoluindo. Acho que isso vai casar muito bem com o time, porque são jogadores que querem estar lá, querem ganhar, eu tenho experiência, não vou falar que eu vou ensinar o caminho de ganhar, mas eu vou estar lá para ajudar, para nós ganharmos juntos”.

Franco Balbi, já no Flamengo, e Jhonatan Luz, no Sesi Franca. Foto: Arquivo

Tendo montado um time tão forte para o evento e com 38 anos completados em fevereiro, é inevitável pensar no pós-carreira de Jhonatan, quando ele decidir que deve parar. Rejeitou a possibilidade de ser treinador para ver o crescimento de Ethan, porém pensa em outras duas vertentes: ser técnico de atleta, individualmente falando, e devolver os ensinamentos ao local de onde veio. “Alguns jogadores, algumas pessoas falam que não pode deixar morrer o conhecimento, não quero também deixar morrer. Quero ensinar, passar o que aprendi, o que passei para outras pessoas e ajudar um pouco o basquete em si. Tenho muitos amigos em Pirituba e em Osasco que fazem esse trabalho, quero ajudar a comunidade onde eu saí, crianças que querem ver o esporte e vou mostrar do jeito que sei, jogando basquete.”

E o que Jhonatan aprendeu com o basquete nessa longa trajetória? “A viver, aproveitar todos os momentos, fazer muitos amigos, ser muito competitivo, hoje sou muito competitivo, o basquete me deu isso. O basquete me ensinou tudo, me ensinou línguas, viajar pelo país, me comportar aonde eu estiver, educação, me ajudou em tudo. Falo que se não fosse o basquete, não sei nem se estaria aqui, infelizmente. Saí da comunidade, tenho minha família lá também, é muito complicado, mas o esporte mudou minha vida.” Entente o porquê de Jhonatan ter construído um reinado mais valioso do que ouro ou só conquistas?

O Jogo das Estrelas 2025 é um evento organizado pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, parceria oficial do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais de Copasa e Governo de Minas, Penalty e Valmont, patrocínios Paraty Energia, Blink e Tereos – Açúcar Guarani – e UMP e apoio da Lei de Incentivo ao esporte e Governo Federal.

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