Quem foi Rei nunca perde a majestade. Corderro Le Quince Bennett já foi King of Dunk (rei das enterradas), usando uma coroa, no Jogo das Estrelas de 2017, realizado no Ibirapuera. Também já jogou no time Tyrone e no time David Jackson. Agora, como capitão do time NBB Mundo, vai buscar a coroa para o reino estrangeiro, algo que não ocorre desde essa mesma edição realizada em São Paulo e que nunca aconteceu com a mudança no formato, que passou a contar com quatro equipes. Bennett conta com artilharia pesada de snipers e promete até ser assistente do Dedé Barbosa, se isso ajudar para a volta ao trono.
Bennett é um atleta que, apesar de ter começado cedo no basquete, tornou-se profissional mais tarde que a média dos jogadores de elite. Com dez temporadas no NBB CAIXA, teve quase toda carreira no Brasil, sendo o sexto estrangeiro com mais partidas no principal campeonato de basquete do País (353 jogos), atrás de Larry Taylor, Shamell, Dawkins, David Jackson e Tyrone. Aqui no país, teve cinco temporadas pelo Pinheiros antes de se tornar uma referência pelo São Paulo, estando presente nas duas conquistas recentes do clube, a Basketball Champions League Americas de 2021/22 e o Campeonato Paulista de 2021.
As duas conquistas pelo São Paulo são momentos que Corderro guarda com muito carinho. “Acho que o jogo contra o Sesi Franca, quando ganhamos o Paulista aqui, esse momento foi muito especial, porque esse título ganhamos juntos. Na verdade, esses dois títulos. Esses dois títulos foram especiais porque, como um time, nós jogamos muito, muito bem. Na BCLA, fizemos nove jogos e zero derrotas. Esse momento foi, na minha carreira, muito especial.”
A relação do armador de 36 anos (e que completará 37 uma semana após o Jogo das Estrelas) com o basquete já percorreu uma estrada de idas e vindas, mostrando, principalmente, que o talento pode superar a questão de se afastar das quadras por alguns anos. “Comecei no basquete com sete anos, joguei na escola, joguei lá na minha cidade, em Indiana, e fiz dois anos na faculdade. Eu voltei para casa e tive um filho com 21 anos. Dei uma pausa no basquete por uns quatro anos. O primeiro ano profissional eu estava em Alemanha com 24, 25 anos, joguei uma temporada lá. Depois eu fui para Estônia, joguei mais uma temporada lá e tive mais uma pausa”, explica Corderro.
Corderro Bennett em ação pelo São Paulo no NBB CAIXA. Foto: Arquivo
Apesar da forte influência que o Pacers exerce no local onde Corderro nasceu, o atleta não é torcedor da franquia na NBA. Ele é muito mais admirador de jogadores em aspectos individuais no basquete americano e comentou que, atualmente, gosta muito de ver o Oklahoma City Thunder jogar. E o motivo que o tornou jogador de basquete é o mesmo que o impulsiona a continuar jogando: a família. “Eu jogo basquete por causa da minha mãe. Ela jogou basquete por muito tempo. Ela jogou na escola, na faculdade também. E a minha família, todo mundo joga basquete. Então, agora é preciso continuar. Eu pensava em parar mais cedo, mas não sei, tenho três filhos. Preciso jogar por eles. Esse esporte aqui é importante para mim, porque quando eles vêm aqui para assistir ao jogos ou assistem na TV, eu preciso jogar bem em todos os jogos. Com o basquete, você precisa jogar por algum motivo. A família é uma grande parte que me motiva a jogar.”
O atleta chegou no meio da temporada 2011/12 ao Giants Dusseldorf e tinha nove jogos para classificar o time aos playoffs da segunda divisão alemã. “Não foi fácil, mas foi normal. Quando eu cheguei na Alemanha, foi uma cultura diferente, joguei só seis meses lá e foi bom. Não tinha muita coisa para fazer, fiquei no hotel nesses seis meses que joguei por lá. Nós chegamos na final do campeonato. Na Estônia, fiquei dois meses e machuquei o quadril.” É interessante notar que Bennett trata dessas passagens pela Europa com a mesma naturalidade que executa as defesas que o renderam o prêmio de defensor do ano por duas temporadas seguidas no NBB CAXIA (2021/22 e 2022/23).
Mas o período não foi dos mais empolgantes para Bennett, já que por seis meses, sem conhecer a cultura e sem sair do hotel para conhecer muitos lugares, transitava entre jogos, treinos e hotel. Depois, ainda mudou-se para outro local ainda mais distante de sua cultura e precisou parar por causa de uma lesão. “O lugar mais difícil foi a Estônia, porque eles não têm muita coisa para fazer, a comida não é muito boa, então foi difícil para mim. Cheguei aqui no Brasil em 2015, em São José do Rio Preto. Fui para o Pinheiros, joguei cinco anos lá. E agora estou aqui no São Paulo no quinto ano. Aqui foi muito mais fácil a adaptação”, garantiu Corderro.
O sucesso veio rapidamente, logo no segundo ano de Pinheiros, ajudou o time a chegar à semifinal da temporada 2016/17, fato que não ocorria desde 2011/12. Nessa edição, Bennett teve alguns de seus melhores números (14,7 pontos, 3,6 rebotes e 4,1 assistências para 15,9 de eficiência) em 43 partidas, ainda que sua oscilação ao longo de dez temporadas seja pouca, o que mostra grande regularidade no decorrer dos anos. No total de sua estadia no NBB CAIXA, o americano de Indiana tem 12,9 pontos, 3,3 rebotes e 3,1 assistências para 14 de eficiência.
Yago, do Paulistano, tentando furar a defesa de Bennett, do Pinheiros. Foto: Arquivo
Nesses dez anos que está no Brasil, Bennett viveu a semifinal com o Pinheiros e mais uma semifinal com o São Paulo, além de ter chegado a duas finais de NBB CAIXA com o Tricolor, em sua primeira temporada (2020/21) e dois anos mais tarde (2022/23). Além dessa trajetória de grande desempenho esportivo, o americano atribui a outro fator a questão de sua maior adaptabilidade ao basquete nacional. “Quando eu cheguei aqui, o NBB CAIXA tinha poucos gringos, norte-americanos. Nossa, agora a Liga está muito melhor e bem mais forte. Isso favorece não só o crescimento técnico, mas também para ter uma convivência melhor, ter mais trocas de experiências. Com mais americanos, mais gringos, a Liga fica um pouco mais forte, tem o estilo diferente.”
Contudo, para se destacar tanto em sua terra natal, como na Europa e com tantos gringos chutadores de longa distância aqui no Brasil, Bennett preferiu seguir pelo caminho menos convencional, que lhe garantiria mais tempo em quadra. “Na verdade os americanos, os gringos não gostam muito de defesa. Mas na minha cultura, na minha cidade, onde eu nasci, nós precisamos marcar, se não marcamos, não jogamos. Então, precisamos trazer alguma coisa diferente para ficar na quadra. Eu sempre jogo para o meu time. Qualquer coisa que posso fazer, eu faço para eles. Quando começa o jogo, preciso começar na parte da defesa. Se eu não começar lá, o jogo do ataque não vai encaixar para mim.”
E, afinal, o Jogo das Estrelas? O armador do São Paulo terá uma missão difícil. Capitanear um time que não vence o evento desde 2017. Antes de pensar em chegar à final, Bennett terá que superar o time Jhonatan, que conta com nomes como Alex, Lucas Dias e Alexey. O atleta americano acredita que os nomes que foram mais bem votados para seu time podem fazer frente e desbancar o time do capitão, ala do Flamengo. Corderro até deu a fórmula da tática que vão usar. “Temos pontuadores, temos os caras que fazem tudo, manter o Duane Johnson em jogo, temos o Cook, um score puro, eu gosto. Acho que temos uma grande chance para ganhar esse ano. O NBB Mundo nunca tem pivôs. Então, acho que agora precisamos jogar small ball, talvez vá marcar zona, mas acho que o Dedé vai ter um esquema para nós ganharmos.”
“King” Bennett, do Pinheiros, no Torneio de Enterradas do Jogo das Estrelas de 2017. Foto: Arquivo
Para voltar a conquistar o trono vindo de fora e voltar a reinar em terras Brasileiras, Bennett usa aquilo que aprendeu nas outras edições e promete ser um rei prestativo com seus comandados. “Eu estava lá com David Jackson, eu estava lá com Tyrone também, vi as coisas, como eles jogaram lá. Vai ser diferente, mas acho que vai ser legal também. Sou o mais velho agora, então eu vou fazer um pouco de tudo. Eu vou jogar, ser assistente do técnico e acho que eu vou fazer uns seis pontos, oito pontos no primeiro jogo. Quando chegarmos na final, eu vou deslanchar.”
Lógico que Bennett vai entrar para ganhar, porém o que é mais importante, já conquistou: reconhecimento. Tem a empatia de duas torcidas brasileiras que abraçam o basquete, atravessou o Atlântico para o Velho Continente, saindo da América do Norte e atravessou novamente para mostrar que o talento e a determinação podem mostrar o valor de um atleta mesmo se tornando profissional com mais tempo de vida.
O Jogo das Estrelas 2025 é um evento organizado pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, parceria oficial do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais de Copasa e Governo de Minas, Penalty e Valmont, patrocínios Paraty Energia, Blink e Tereos – Açúcar Guarani e apoio da Lei de Incentivo ao esporte e Governo Federal.